Até que ponto nós realmente "precisaremos" de combustíveis fósseis nos próximos anos?
À medida que a energia renovável fica mais barata e que máquinas e
edifícios se tornam mais eficientes em termos energéticos, vários países
estão reduzindo o uso de combustíveis fósseis. Os EUA, por outro lado,
continuam sendo o segundo maior emissor de gases do efeito estufa, atrás
da China.
Robert Samuel Hanson/The New York Times
Em 2011, 13 países obtinham mais de 30% da sua eletricidade de fontes
renováveis, segundo a Agência Internacional de Energia. Muitos deles têm
metas ainda mais ambiciosas.
Nos EUA, que obtiveram apenas 12,3% da sua eletricidade de fontes
renováveis em 2011, um recente relatório do Conselho Nacional de
Pesquisa concluiu que até 2030 o petróleo usado em carros e caminhões
poderá ser reduzido à metade em comparação aos níveis de 2005, desde que
haja melhoras na eficiência dos veículos a gasolina e um uso mais
difundido de carros movidos a energias alternativas, como baterias
elétricas e biocombustíveis.
Engenheiros da Universidade Stanford, na Califórnia, publicaram em março
uma proposta mostrando como o Estado de Nova York poderia facilmente
produzir, a partir de 2030, toda a sua eletricidade a partir do vento,
do sol e da água. Haveria tanto potencial energético que as fontes
renováveis poderiam também abastecer os carros do Estado.
"É absolutamente inverídico que precisemos de gás natural, carvão ou
petróleo -achamos que isso é um mito", disse Mark Jacobson, professor de
engenharia civil e ambiental e principal autor do estudo.
"Do ponto de vista técnico e econômico, você poderia abastecer os EUA
com energias renováveis. Os maiores obstáculos são sociais e políticos
-o que é necessário é a vontade de fazer isso."
Dos países que mais usam a eletricidade renovável, alguns, como a
Noruega, dependem daquela velha energia renovável, a hidrelétrica. Mas
outros, como Dinamarca, Portugal e Alemanha, já criaram incentivos
financeiros para promover tecnologias mais novas, como a solar e a
eólica.
O Canadá produziu, em 2011, 63,4% da sua eletricidade de fontes
renováveis -em grande parte a hidrelétrica, mas também um pouco da
eólica.
Mas Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia,
disse que, embora reduzir o uso de combustíveis fósseis seja crucial
para conter a elevação das temperaturas globais, melhorar a eficiência
energética de lares, veículos e indústrias seria uma estratégia mais
fácil em curto prazo.
Ele alertou que uma expansão rápida da energia renovável pode ser
complicada e custosa. Seu uso em grandes quantidades geralmente exige
modificações nas redes elétricas nacionais. Além disso, a energia
renovável ainda é, em geral, mais cara que os combustíveis fósseis.
Aliás, muitos países europeus que se destacam na adoção de energias
renováveis têm poucos combustíveis fósseis de produção própria, então
seus custos elétricos já eram elevados. Outros possuem fortes movimentos
ambientalistas que tornaram politicamente aceitável a elevação de
custos.
Mas Birol previu que o preço da energia eólica vai continuar caindo, ao
passo que o preço do gás natural deve subir nos próximos anos. Ele
observou, também, que os países podem com frequência obter 25% da sua
eletricidade de fontes renováveis sem fazer grandes modificações nas
suas redes.
Quando digo a colegas que Portugal atualmente obtém 40% da sua
eletricidade de fontes renováveis, a resposta padrão é: "Venta muito em
Portugal". Mas em muitos lugares nos EUA e em outros países também
venta.
Quando voltei de Kristianstad, na Suécia, e falei deslumbrada sobre como
essa cidade usa os resíduos de fazendas, florestas e fábricas
alimentícias para produzir o biogás responsável por 100% da sua
calefação, a reação foi também de incredulidade.
Mas eu me atreveria a dizer que um plano similar funcionaria bem em
Milwaukee (no Wisconsin) ou Burlington (em Vermont), cidades que também
ancoram áreas rurais.
Mas até a Europa está tendo um pouco de dificuldades com suas ambições
renováveis. A Alemanha, que obteve 20,7% da sua eletricidade de fontes
renováveis em 2011, está reavaliando os incentivos que oferece com
vistas a alcançar 35% até 2020, devido a preocupações com o
encarecimento da energia numa época de incerteza econômica. O país tem
tido problemas para aumentar sua capacidade de transmissão e dar conta
de levar a energia eólica gerada no tempestuoso norte para o industrial
sul.
Birol disse que o gás natural e a energia renovável podem acabar
formando "um belo casal". Mas em que proporção? Se, dentro de 20 anos,
os carros forem 50% mais eficientes e grande parte da nossa eletricidade
for eólica e solar, deveríamos ser mais comedidos em fazer
investimentos em combustíveis fósseis?
Vale a pena ponderar até que ponto realmente "precisamos" de combustíveis fósseis.
Fonte: Folha