28 de nov. de 2013

Morador de rua brasileiro é homem, alfabetizado e tem parentes que moram na mesma cidade, revela pesquisa


Uma pesquisa encomendada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e divulgada nesta terça-feira (29), em Brasília, revela o perfil dos moradores de rua brasileiros. Os pesquisadores escolheram cidades com mais de 300 mil habitantes e saíram a campo entrevistando moradores de rua com mais de 18 anos de idade. A principal conclusão do estudo é que as pessoas em situação de mendicância são em sua maioria homens alfabetizados e jovens, que abandonaram suas casas por problemas com álcool ou drogas ou por terem perdido o emprego.

Uma equipe formada por 1.479 pesquisadores e assistentes sociais saiu a campo para entrevistar pessoas que habitam calçadas, praças, rodovias, parques, viadutos, postos de gasolina, praias, barcos, túneis, depósitos e prédios abandonados, becos, lixões, ferro-velho ou que pernoitam em instituições como albergues e abrigos. No total, foram ouvidos 31.922 pessoas, espalhadas por cidades médias e por quase todas as capitais brasileiras, com exceção de São Paulo, Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre.


Folha Imagem
Mendigo dorme no Largo São Francisco, no centro de São Paulo


Cada entrevistado respondeu a um questionário com cerca de 20 perguntas. A análise dos dados recolhidos revela que 82% da população de rua é formada por homens. Mais da metade (52%), têm entre 25 e 44 anos de idade. Quanto à raça, 39,1% se declararam pardos, 29,5% se disseram brancos e 27,9% se identificaram como negros. 


Do total de indivíduos pesquisados, 48,4% estão fora de casa há mais de dois anos. Dois em cada três (69,6%) dormem na rua, enquanto 22% costumam dormir em albergues ou outras instituições. Outros 8,3% costumam alternar, ora dormindo na rua, ora dormindo em albergues.


Surpreendentemente, as pessoas em situação de mendicância se revelaram escolarizadas. Do total, 74% sabiam ler e escrever e quase a metade (48,4%) disseram ter completado o ensino fundamental. 


Os principais motivos pelos quais essas pessoas passaram a viver e morar na rua se referem aos problemas de alcoolismo e/ou drogas (35,5%); desemprego (29,8%) e desavenças com familiares (29,1%).


A pesquisa põe em xeque a noção de que moradores de rua são pessoas que abandonaram suas cidades de origem e não mantêm nenhum vínculo familiar. Uma parte considerável (58%) se disse originária da mesma cidade em que se encontra ou de locais próximos. E mais: 51,9% dos entrevistados afiramaram possuir algum parente que residindo no mesmo município onde se encontram.


Entre os que já moraram em outras cidades, 45,3% se deslocaram em busca de novas oportunidades de trabalho. O segundo principal motivo foram as desavenças familiares (18,4%).


Questionados sobre o que fazem para sobreviver, 70,9% dos entrevistados disseram exercer alguma atividade remunerada. Apenas 15,7% revelaram que a sua principal fonte de renda são as esmolas. 


A pesquisa revelou que os moradores de rua em geral são pessoas saudáveis. Apenas um terço deles afirmou ter algum problema de saúde. A doença mais freqüente é hipertensão (10,1%), seguida por problemas psiquiátricos (6,1%) e HIV/aids (5,1%). 


Questionados sobre que tipo de discriminação sofrem por viver em situação de rua, os entrevistados disseram que freqüentemente são impedidos de entrar em certos locais, tais como lojas, shopping centers e meios de transporte coletivo.


Com base nos dados levantados nessa pesquisa, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome diz que pretende elaborar políticas públicas para lidar com o problema da mendicância. A idéia é estabelecer um plano nacional para ajudar as cidades médias e grandes a combaterem o problema, e quem sabe reintegrar essas pessoas à sociedade. Em cada uma das 71 cidades pesquisadas, o total de pessoas em situação de rua gira em torno de 0,061% da população local.

Fonte: UOL Notícias

29/04/2008 - 10h10


25 de nov. de 2013

Campanha eleitoral de 2014 será cruenta e suja!



Nas Entrelinhas
Não faltam indícios de que teremos uma campanha eleitoral em 2014 duríssima, na qual as denúncias de corrupção protagonizarão o debate eleitoral, em lugar da discussão sobre as prioridades e os graves problemas do país — embora todo marqueteiro saiba que esse tipo de abordagem, no horário eleitoral, tira mais votos do que dá aos candidatos que a utilizam. O problema é que as chamadas mídias sociais ocupam cada vez mais espaço no debate político e, nelas, a campanha eleitoral já começou. Verdadeiros exércitos de blogueiros e internautas estão se formando para uma guerra virtual que promete ser cruenta e suja. E que pode também dar o tom da campanha nas ruas. ...

Nas eleições de 2010, já houve intensas campanhas eleitorais nas redes sociais, mas esse peso será muito maior agora. As manifestações de junho passado estão aí para mostrar do que as novas mídias são capazes, em termos de difusão de informações sobre os candidatos e suas respectivas campanhas. Não foi à toa que o Congresso limitou a propaganda visual nas próximas eleições. A grande incógnita é saber o poder de fogo das redes sociais com os eleitores. A maioria dos atores das manifestações recentes é avessa aos partidos políticos e, mais ainda, a quem está no poder. Os mais radicais e descontentes tenderão a votar nulo.

O epicentro dessa disputa nas redes está em São Paulo. O desfecho do chamado mensalão, que levou à prisão políticos e empresários, esquentou o debate. São paulistas os mais ilustres petistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na Ação Penal 470. Cumpre pena na Papuda o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. O deputado José Genoino, ex-presidente do PT, que também estava lá, passou mal, foi hospitalizado e agora está em prisão domiciliar provisória, na casa de sua filha, em Brasília — ainda corre o risco de ter de voltar para cadeia.

O caso de Genoino, em razão de sua saúde frágil, provocou a emoção que faltava. Os petistas recuperaram a velha combatividade ao se digladiarem com a oposição nas redes sociais. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que executou as sentenças em pleno feriadão da Proclamação da República, virou o saco de pancadas dos autodenominados blogueiros progressistas, ao mesmo tempo em que é endeusado pelos oposicionistas.

O pau de aroeira também está cantando pra cima dos tucanos paulistas e seus aliados por causa do cartel de empresas do metrô dos trens, que teria atravessado as administrações de Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva comanda as articulações do PT visando a eleição do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para o governo de São Paulo. O presidente do PT, Rui Falcão, que é deputado estadual, organiza uma brigada de choque nas redes sociais para esse embate. É nesse contexto que novas denúncias surgiram na semana passada, mirando parlamentares que apoiam a reeleição do governador paulista e alguns de seus secretários.

A denúncia provocou uma nota de protesto do presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), pré-candidato a presidente da República, que ontem pediu o afastamento do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e do presidente do Cade, Vinícius Marques de Carvalho, acusando-os de vazar um documento anônimo que serviu de base para a denúncia de suposto envolvimento dos políticos tucanos com o cartel do metrô e dos trens. “Essa nova operação remete à prática nefasta e habitual do PT de se utilizar de dossiês fajutos para denegrir adversários políticos. O caso agora é ainda mais grave do que o episódio dos aloprados de 2006, pois Simão Pedro, José Eduardo Cardozo e o presidente do Cade, Vinícius Carvalho, são figuras prestigiadas no PT”, acusa.

O ministro Cardozo se defende: “Qual é o papel do ministro da Justiça? É mandar apurar, com sigilo. Se não faço isso, prevarico”. Segundo ele, não há uso político do órgão: “O Cade vive hoje uma situação semelhante à da PF. Quando você investiga aliados, afirma-se que é um órgão que o ministro e o presidente não controlam. Quando você investiga adversários, fala-se que é instrumentalização”. Cardozo admitiu, porém, ter recebido o documento em fim de semana, em sua casa, em São Paulo, de Simão Pedro (PT), deputado estadual licenciado e secretário de Serviços da prefeitura de São Paulo.

Supõe-se que o parlamentar também tenha vazado o documento, depois de esquentá-lo, e que o ministro esteja protegendo o presidente do Cade, seu subordinado. Os delegados que apuram o caso dizem ter recebido o documento do Cade e não do ministro. Apesar da controvérsia, o fato é que os políticos citados na denúncia apócrifa terão muito trabalho para se explicar. Nas mídias sociais, esse tipo de tarefa será inglória. Há munição de sobra para os “virais sujos” da guerra nas redes.

“Não foi à toa que o Congresso limitou a propaganda visual nas próximas eleições. A grande incógnita é saber o poder de fogo das redes sociais com os eleitores”

Fonte: Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense - 25/11/2013

6 de nov. de 2013

Snowden foi um herói de nosso tempo!


A pedido de piauí, o historiador Perry Anderson – autor do artigo A pátria americana, publicado nesta edição de outubro – enviou os seguintes comentários a respeito das recentes revelações sobre a espionagem cibernética dos Estados Unidos.

“O fato de nenhum país ocidental ter ousado dar asilo a Snowden diz muito sobre a realidade da Pax Americana”


por PERRY ANDERSON

O artigo A pátria americana está voltado para a política interna dos Estados Unidos, não para a ordem imperial americana no exterior. Mas um feito distintivo do governo Obama tem sido o de apagar a fronteira entre essas duas esferas em um grau inédito. Sob Obama, foi criado um sistema global de vigilância que abarca implacavelmente tanto chefes de Estado estrangeiros – como os presidentes do Brasil e do México descobriram – quanto o mais humilde cidadão americano. Ao expor essa espionagem cibernética universal, Edward Snowden foi um herói de nosso tempo. O fato de que nenhum país ocidental – nem mesmo o Brasil, uma vítima desse sistema – tenha ousado dar asilo a Snowden é mais revelador das realidades da Pax Americana do que o orçamento militar dos Estados Unidos, que é maior do que os orçamentos combinados de todas as outras potências com alguma pretensão de ter um papel internacional.
Numa sequência de A pátria americana que será publicada no fim deste mês na New Left Review, eu discuto a atuação externa do Estado norte-americano desde os anos 1930. A seguir, adianto um trecho sobre o atual governo:
“O que distingue o governo Obama como uma nova etapa do Império Americano? Durante a Guerra Fria, a Presidência dos Estados Unidos acumulou poder discricionário num ritmo crescente. Entre a época de Harry Truman [1945-1953] e a de Ronald Reagan [1981-1989], a equipe da Casa Branca se multiplicou por dez. Hoje, o Conselho de Segurança Nacional – com mais de 200 integrantes – é quase quatro vezes maior do que era sob Richard Nixon, Jimmy Carter ou mesmo Bush pai. A CIA atua como um exército privado à disposição do presidente e, embora o tamanho da agência seja um segredo, ela também cresceu exponencialmente desde que foi criada em 1949. Desde os dias de John Kennedy, seu orçamento aumentou mais de dez vezes, de 4 bilhões de dólares em 1963 para 44 bilhões em 2005, em valores atualizados. As chamadas “declarações de promulgação” – objeções feitas por escrito pelo presidente no ato de assinatura de uma lei – agora permitem invalidar legislação aprovada pelo Congresso e que não é do agrado da Casa Branca. Atos do Executivo ao arrepio da lei são regularmente endossados pelo Escritório de Assessoria Legal do Departamento de Justiça, o mesmo que [no governo George W. Bush] providenciou memorandos defendendo a legalidade da tortura. Mas mesmo esse grau de subserviência foi considerado insuficiente pelo Salão Oval, que criou sua própria assessoria para carimbar incondicionalmente tudo o que a Presidência decidir fazer.
Obama herdou esse sistema arbitrário de poder e violência e, como a maioria de seus antecessores, o ampliou. As operações Odisseia da Aurora e Stunext, o programa Prism e a campanha de assassinatos seletivos são da lavra do atual presidente: uma guerra [contra o líbio Muammar Khadafi em 2011] em que nem hostilidades chegaram a se configurar; um ataque de longa distância com um vírus eletrônico [ao programa nuclear do Irã]; a ampla espionagem de comunicações nacionais e estrangeiras; o assassinato de cidadãos americanos e estrangeiros. O Algoz-em-Chefe relutou até mesmo em abrir mão da prerrogativa de ordenar a morte sem julgamento de cidadãos dos Estados Unidos [acusados de atividades terroristas no exterior].
Ninguém pode acusar este presidente de não ter sentimentos humanos – as lágrimas pelas crianças mortas numa escola da Nova Inglaterra comoveram a nação; os apelos pelo controle do porte de armas foram convincentes para não poucos. Se muitas outras crianças, a maioria sem escolas sequer, morreram por suas mãos em Ghazni, no Afeganistão, ou no Waziristão paquistanês, isso não é motivo para a perda do sono presidencial. Os aviões não tripulados Predators têm a mira mais acurada do que armas automáticas, e o Pentágono sempre pode expressar pedidos de desculpas quando considerar conveniente. A lógica do império, e não a unção do governante, estabelece o padrão moral.”